Por Ana Carolina Tomé Rocha e Ícaro Santos
Por Ana Carolina Tomé Rocha e Ícaro Santos
Por Ana Carolina Tomé Rocha e Ícaro Santos
Os ídolos pelas palavras dos fãs
Pessoas escrevem histórias fictícias onde suas admirações são os personagens
Por Giovanna Cunha
Fãs são expressivos. De um cover a um cosplay, as demonstrações são intensas. Uma delas gera histórias com prólogo, meio e epílogo. Tudo isso começou na década de 1960, quando a fanzine Spokanalia, dedicada à série Star Trek, realizou as primeiras publicações das “ficções de fãs”, que após seriam chamadas de fanfictions ou, simplesmente, fanfics.
Com seus gêneros e classificações, são histórias de fãs para fãs em um enredo que envolve a obra principal, livros, filmes, séries, cantores etc. Às vezes têm um capítulo, como OneShots. Outras, menos de dez, as Short-Fics. Com mais de dez, Long-Fics. Há até as que são baseadas em músicas, as Songfics. Um desafio é o Crossover, que tem dois ou mais ídolos de lugares diferentes. Também existem as interativas, nas quais o leitor é um personagem ou decide o destino dos demais. Em alguns casos, os ídolos recebem outros nomes e servem apenas para a inspiração física, o que se assemelha a uma história original.
Outra coisa popular são os ships, isto é, os romances, como Rony e Hermione, de "Harry Potter", ou Jimin e Jungkook, da banda BTS, que não são um casal na vida real, mas carregam uma legião de fãs com suas teorias. É importante ressaltar que este termo vem da palavra inglesa “relationship”, “relacionamento” em português. Assim, os apoiadores do casal são denominados shippers.
Atividade que consiste em vestir-se, caracterizar-se e comportar-se como uma personagem
Junção de “Fã” e “Magazine”, é um veículo semelhante a uma revista, feito por fãs de um determinado assunto, obra ou figura pública.
Jimin e Jungkook: Reprodução/Ameblo e Rony e Hermione: Reprodução/Warner Bros
Os autores
Fanfics são encontradas em peso nas redes sociais ou em plataformas para publicações independentes, como Wattpad, Spirit Fanfics, Fanfic Obsession, entre outras. Dentro delas moram os autores, como Mariana Nascimento, 18 anos, que iniciou esta trajetória em 2020. Sobre a melhor parte, alega que é o reconhecimento. “Pessoas comentando, chegando em você e falando ‘Cara, sua história é muito boa, gostei pra caramba".
Fanfic Moments: Reprodução/Wattpad
Por alimentar a imaginação, a escrita pode ser vista como algo natural e a favor do lazer, sem roteiros específicos. Um exemplo é a autora Raphaella da Rocha, 29, que atua com o pseudônimo Jaden Forest. “Sinto que, se fizer um roteiro sobre o que vai acontecer, perde a graça, porque sempre senti muita vontade de escrever por não imaginar o que aconteceria no final”, conta.
Fanfic Transparent Soul e Fanfic Satisfaction: Reprodução/Instagram
As parcerias, quando dois ou mais autores unem-se para escrever, também são muito comuns no universo das fanfics. Sobre isso, Rocha aponta prós e contras: “Entra na parte que mais gosto da escrita: não saber o que vai realmente acontecer. [...] Já escrevendo sozinha, o ritmo é bem mais lento, as ideias demoram mais para surgir, porém você tem mais liberdade para fazer o que quiser”.
Fanfic Señorita: Reprodução/Instagram
Algumas fanfics já se tornaram obras de sucesso nas bilheterias mundiais. Um exemplo é a trilogia "Cinquenta Tons de Cinza", de E. L. James, que antes de ser filme, era livro, e antes de livro, era uma fanfic dedicada à saga "Crepúsculo". Outro nome é "After", de Anna Todd, que decorreu de uma fanfic homônima com os personagens caracterizados pelos membros da banda britânica One Direction. Essa adaptação de letras para filmagens muitas vezes gera esperança em quem tem intenção profissional. Porém, exige adaptações das características das figuras públicas para algo original.
Ariel Miranda, 26 anos, sob o pseudônimo Sereia Laranja, escreve fanfics há treze anos sobre vários universos, inclusive em parcerias — muitas com a autora Jaden Forest. Da paixão pela escrita, ela decidiu se arriscar como autora independente. Para este processo, se tornou Siren Blackwood e publicou "Clame A Tempestade". “Conheci alguns autores de romances LGBTQIA+ no Instagram e comecei a perceber o quanto eles faziam essa transição do Wattpad para a Amazon. Então decidi tentar”. Embora tenha lidado com a falta de atenção de algumas editoras, não desanimou. “[...] Meu conselho é não ter medo, sempre vai ter alguém para ler o que você criou. Não dependa de ninguém além da sua própria imaginação e coloque o limite apenas no céu”.
Referente à “lenda” ou “aventura”, a saga é caracterizada por histórias com personagens de uma determinada cultura ou até mesmo religião. Tem mais de um livro, pois sua duração é longa, ou seja, o enredo se desenvolve em anos, séculos ou até eras.
Conjunto de três histórias com a mesma temática ou sequência de enredo, sendo a obra mais recente a continuação das anteriores
Siglas referentes à comunidade que luta política e socialmente pelos direitos à diversidade e representatividade para com as orientações sexuais e identidades de gênero.
Clame A Tempestade: Reprodução/Amazon e Fanfic Um Namorado Para o Natal: Reprodução/Fanfic Obsession
Por trás das obras
Fanfics, por serem de fácil acesso à leitura e publicação, não aparentam complicações além do texto. Todavia, as “profissões” por trás mostram que cada detalhe conta. Um exemplo são os beta-readers, leitores e revisores antes da publicação oficial. Os capistas, da parte gráfica (capa, designs) e os scripters, das configurações HTML e layout. Outros são os embaixadores, que cuidam do bom andamento geral. Normalmente, esses serviços são voluntários.
“A equipe era dividida em engajamento e conteúdo, e cada um tinha a sua função dentro do site. Engajamento cuidava dos perfis de gêneros ‘oficiais’, e Conteúdo analisava as denúncias de conteúdo proibido pelas regras”, diz Becca Stupello, 24 anos, embaixadora do Wattpad entre 2018 e 2020. Hoje escritora, ela afirma que a experiência contribuiu para algo que ama fazer: ajudar. “Foi uma grande oportunidade de aprendizado e crescimento. Internamente, conheci pessoas muito incríveis que levo comigo até hoje".
A razão da leitura de fanfics
A escrita de fanfics não exige profissionalismo, o que gera o desinteresse de alguns. No entanto, o que mais se preza é o empenho e o cuidado que os autores possuem, pois fica nítido para quem lê. “É legal ver o talento deles e o quanto se esforçam para entregar algo a um público tão acolhedor”, comenta a leitora Gabriela Rocha, de 21 anos. Vale salientar que as plataformas, embora contenham obras com classificação indicativa, não reprimem a criatividade à idade. Apesar disso, a maioridade é o domínio. Uma enquete anônima, realizada pela equipe do Mar de Páginas através de redes sociais e grupos específicos de leitores de fanfics, aponta que a faixa etária mais comum entre os leitores é, em média, de 18 a 25 anos.
Todavia, a aspiração ou a idade não devem ser algo negativo, pois vai além da escrita, conta com o sentimento mais intenso e a vontade de compartilhá-lo com quem se sente do mesmo jeito. Provoca o interesse pela leitura, divulga as obras inspiradoras, divulga o ídolo em questão. Para a leitora Giovanna Góes, 21 anos, uma vantagem está nos personagens, pois a identificação e o carinho flui muito mais rápido do que em histórias originais, justamente por se tratar de pessoas por quem se tem uma admiração. E ressalta: “O mundo das fanfics é um lugar onde ganhamos facilmente a passagem de entrada, mas não é prometido a passagem de saída".
Em qualquer comprimento, ídolo ou site, as fanfics são libertadoras. Significam muito além de uma admiração fanática. Criam novos leitores e autores, incentivam, fazem com que a imaginação se torne maior do que a distância e provam que após o epílogo, se cria uma nova história.