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A conquista de espaços

As experiências de autores independentes fora do eixo Sul e Sudeste

Por Ana Carolina Tomé Rocha e Danielle Reis

O Nordeste tem uma forte influência na literatura brasileira com grandes autores e histórias registradas. Desde os clássicos como José de Alencar, Graciliano Ramos, Jorge Amado, aos atuais como Cida Pedrosa, autora de "Solo para Vialejo", livro de poesia vencedor do Prêmio Jabuti em 2020; Socorro Acioli, autora de "A Cabeça do Santo", que mescla a ficção com os ambientes nordestinos; Itamar Vieira Jr, autor de "Torto Arado", um romance que se passa no sertão baiano, se tornam referências na hora de representar suas origens e tradições que inspiram, por meio de palavras, a nova geração de escritores. 

 

O Norte não fica atrás. Quando o assunto é biodiversidade e diversidade cultural, a região mostra sua riqueza, desde manifestações artísticas como o famoso bumba meu boi, à produção literária rica e regionalista, que além de retratar sobre o contato com a natureza, também trata da história e parte política que influenciaram o desenvolvimento da região. Um dos principais livros é o ''Cenas da vida Amazônica'', do autor José Veríssimo. Além de autores como José Concesso, Márcio Souza, Manoel Bispo Corrêa e Nenê Macaggi. 

 

Apesar da forte influência e contribuição, hoje as grandes editoras estão localizadas principalmente no eixo Sul e Sudeste (Rio de Janeiro ou São Paulo), bem como os eventos literários. Esse fato dificulta o trabalho de novos escritores, que precisam se deslocar para esses centros a fim de tentarem uma carreira de sucesso na Literatura.

 

Contratempo curioso quando analisamos os dados da pesquisa Retratos da Literatura no Brasil, publicado pelo Instituto Pró Livro, onde é registrado que cinco entre as dez capitais que mais leram em 2019 ficam na região do nordeste. João Pessoa, que ocupa o primeiro lugar do ranking, tem 64% da população considerada leitora, seguida de Curitiba, Manaus, Belém e outras cidades. 

 

Pablo Praxedes, autor das obras "A Poção do Amor" e "A Botija do Fantasma", conta como foi publicar de maneira independente através da plataforma Amazon. “Talvez eu não conseguisse chegar de primeira em uma editora, sabe? E chegar, bater na porta, e já conseguir um contrato de publicação tradicional. Acho que eu fui para o digital, para o independente, além de experimentar e por ver que era possível fazer sozinho, digamos, tipo chegar lá e lançar sem necessitar desse aparato da mídia tradicional”, destaca o autor.

 

Tradicional prêmio literário do Brasil, criado em 1959 e concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL).

Trecho da entrevista com Pablo Praxedes.

No entanto, a divulgação, que é feita normalmente pelas editoras, se torna uma parte desafiadora quando se é independente, segundo Praxedes. “Conseguir que as pessoas me ajudassem a divulgar uma história independente, uma história curtinha, uma história que fugia um pouco do que estava saindo. ‘Poção do Amor’ foi a primeira fantasia, mas é um romance LGBT, e ela é muito bairrista, digamos, uma história bem natural de onde eu cresci, ela conta muito sobre a minha história, então ela é bem particular, digamos. Então foi a dificuldade de fazer com que as pessoas se relacionassem com essa história e fazer com que a divulgação alcançasse mais pessoas”.

Siglas referentes à comunidade que luta política e socialmente pelos direitos à diversidade e representatividade para com as orientações sexuais e identidades de gênero.

Novas formas de resistência

 

Em contraponto à falta de acessibilidade dos autores a grandes editoras, surgem movimentos independentes, como o Sertãopunk que foca em representar a cultura nordestina na ficção, dando destaque a pluralidade da região. Alan de Sá é um dos autores de Sertãopunk: Histórias de um Nordeste do Amanhã, uma coletânea de contos e artigos sobre esse novo movimento literário. Em entrevista, Sá conta como o projeto foi estruturado: “O Sertãopunk veio de uma indignação. O ano era 2019 e eu, G. G. Diniz e Alec Silva estávamos indignados com a mesma coisa: a forma como o Nordeste era retratado, muitas vezes, na ficção. A partir dali a gente começou a pensar em todas as coisas que já existiam e não concordávamos, daí veio o texto ‘Por que fazer o Nordeste sertãopunk?’, no Medium, que depois foi parar na coletânea da Amazon".

Coleção de várias obras ou objetos.

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Livro Sertãopunk: Histórias de um Nordeste do Amanhã. Reprodução: Amazon

Em um ranqueamento publicado pelo site PublishNews, dos 10 livros nacionais mais vendidos da categoria ficção, apenas dois são de autores nordestinos, e nenhum do Norte. Como um autor de obra ficcionista, Alan explica por que acha que isso ocorre: "O Brasil tem uma larga tradição na ficção literária, crônicas e poesia. Acho que a régua para medir a ficção começa daí, porque, muitas vezes, nossa comparação é com grandes nomes de outras áreas da literatura – e a autoajuda é uma delas. Parece bizarro pensar que um livro que basicamente te diga o que fazer pra sair de uma situação de merda consiga vender mais que grandes clássicos. Mas para pra pensar: o que mais se procura quando se está desesperado? Ajuda”.

Crescimento constante

Na região Norte também não é diferente, a movimentação dos autores é cada vez maior, em prol da divulgação e criação do seu espaço no mercado editorial, como conta Rafael Cesar, formado em História pela Universidade Federal do Amazonas, a UFAM. “O primeiro livro que eu lancei, que foi A Emoção e os Rastros, Então, eu fui juntando aqueles textos, e acabei sendo premiado nesse extinto prêmio estadual, né? Era o chamado ProArte. Nunca entendo por que iniciativas como essas acabam. Mas enfim, não existe mais".

Mesmo com o fim da iniciativa ProArte, existem outros editais ao redor do país que geram mais acesso aos autores. Porém alguns preferem uma publicação independente, como é o caso da autora Ana Rita Cunha. “Hoje eu tenho treze livros publicados na plataforma da Amazon, é uma das mais acessíveis e em virtude do preço, é em virtude da comodidade, em virtude da facilidade de aplicativos para que você possa ler, e tem uma infinidade muito grande de formas de ler, você pode ler pelo computador, você pode ler pelo celular, pelo tablet e pelo aparelho de Kindle que eles disponibilizam (para venda). Então assim, a Amazon facilita muito o acesso à leitura no início do meu do meu trabalho".

 

O trabalho desses autores é contínuo e presente. Eles buscam ultrapassar a bolha da regionalidade e levar suas obras a um patamar de reconhecimento digno mesmo de uma forma diferente das tradicionais. 

Dispositivo vendido pela empresa Amazon, fabricado para a leitura de livros digitais. 

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